MANIFESTO ANTI-DANTAS[*]

a Antero de Quental e Almada Negreiros

Hoje os Dantas e os Feliciano
São de esquerda e, tal como antigamente,
Arrotam à mesa do Presidente,
Obesos de saber palaciano.

Mas, se o Zé quis o Nobel no seu ano,
Para além de inquisidor sem ser crente
E comunista (evidentemente),
Teve de converter-se ao castelhano.

São assim os nossos int'lectuais:
Solidários com os “faminto e nu”,
Sem nunca os olharem como iguais,

Tratam o primeiro-ministro por tu,
Frequentam a corte e os telejornais,
São gente de esquerda e levam no cu.

Viseu, 25/12/1999


[*] Quando, em Dezembro de 1999, vi poetas (sobretudo, os poetas, porque de escritores, pintores e escultores a gente já espera tudo...) fazerem bichinha pirilau para o beija-mão presidencial... deu-me cá dentro uma revolta tão grande que, para apaziguar as entranhas, tive de rascunhar à pressa este Manifesto.